No início dos tempos, cada orixá dominava um elemento da natureza, não permitindo que nada, nem ninguém, o invadisse. Guardavam sua sabedoria como a um tesouro.
É nesse contexto que vivia a mãe das água doces, Oxun, e o grande caçador Odé. Esses dois orixás constantemente discutiam sobre os limites de seus respectivos reinados, que eram muito próximos.
Odé ficava extremamente irritado quando o volume das águas aumentavam e transbordavam de seus recipientes naturais, fazendo alagar toda a floresta. Oxun argumentava, junto a ele, que sua água era necessária à irrigação e fertilização da terra, missão que recebera de Olorun. Odé não lhe dava ouvidos, dizendo que sua caça iria desaparecer com a inundação.
Olorun resolveu intervir nessa guerra, separando bruscamente esses reinados, para tentar apaziguá-los.
A floresta de Odé logo começou a sentir os efeitos da ausência das águas. A vegetação, que era exuberante, começou a secar, pois a terra não era mais fértil. Os animais não conseguiam encontrar comida e faltava água para beber. A mata estava morrendo e as caças tornavam-se cada vez mais raras. Odé não se desesperou, achando que poderia encontrar alimento em outro lugar.
Oxun, por sua vez, sentia-se muito só, sem a companhia das plantas e dos animais da floresta, mas também não se abalava, pois ainda podia contar com a companhia de seus filhos peixes para confortá-la.
Odé andou pelas matas e florestas da Terra, mas não conseguia encontrar caça em lugar algum. Em todos os lugares encontrava o mesmo cenário desolador. A floresta estava morrendo e ele não podia fazer nada.
Desesperado, foi até Olorun pedir ajuda para salvar seu reinado, que estava definhando. O maior sábio de todos explicou-lhe que a falta d’água estava matando a floresta, mas não poderia ajudá-lo, pois o que fez foi necessário para acabar com a guerra. A única salvação era a reconciliação.
Odé, então, colocou seu orgulho de lado e foi procurar Oxun, propondo a ela uma trégua. Como era de costume, ela não aceitou a proposta na primeira tentativa. Oxun queria que Odé se desculpasse, reconhecendo suas qualidades. Ele, então, compreendeu que seus reinos não poderiam sobreviver separados, unindo-se novamente, com a benção de Olorun.
Dessa união nasceu um novo orixá, um orixá príncipe, Logun-Edé, que iria consolidar esse "casamento", bem como abrandar os ímpetos de seus pais. Logun sempre ficou entre os dois, fixando-se nas margens das águas, onde havia uma vegetação abundante. Sua intervenção era importante para evitar as cheias, bem como a estiagem prolongada. Ele procurava manter o equilíbrio da natureza, agindo sempre da melhor maneira para estabelecer a paz e a fertilidade.
Conta uma outra lenda que as terras e as águas estavam no mesmo nível, não havendo limites definidos.
Logun, que transitava livremente por esses dois domínios, sempre tropeçava quando passava de um reinado para o outro. Esses acidentes deixavam Logun muito irritado.
Um dia, após ter ficado seis meses vivendo na água, tentou fazer a transição para o reinado de seu pai, mas não conseguiu, pois a terra estava muito escorregadia.
Voltou, então, para o fundo do rio, onde começou a cavar freneticamente, com a intenção de suavizar a passagem da água para a terra.
Com essa escavação, machucou suas mãos, pés e cabeça, mas conseguiu fazer uma passagem, que tornou mais fácil sua transição. Logun criou, assim, as margens dos rios e córregos, onde passou a dominar. Por esse motivo, suas oferendas são bem aceitas nesse local.